segunda-feira, 29 de março de 2010

Esporte, educação e inclusão social





Diversidade e inclusão na prática pedagógica

No exercício da prática docente, podemos perceber algumas dificuldades, por parte de muitas escolas e educadores, em entenderem os conceitos de diferença e desigualdade. Ao consultarmos o dicionário podemos perceber que diversidade significa variedade, multiplicidade, podendo inclusive ser entendida no âmbito das diferenças (FERREIRA, 2004). E é justamente das diferenças, da diversidade que pretendemos lidar.

Tomamos como exemplo o professor de Educação Física e seus alunos. Podemos dizer que jamais poderiam existir indivíduos idênticos, uma vez que cada ser humano, isto é, cada criança ou adolescente, possui características singulares que as fazem únicas, especiais. No entanto, por mais que reconheçamos que as diferenças são inerentes à condição humana, somos levados a admitir e a presenciar que muitas escolas e todos aqueles que formam o "sistema-escola" (professores, pedagogos e alunos) não vêm avançando no sentido de melhor lidar com a diversidade, tão rica e tão importante para o desenvolvimento do respeito, da convivialidade, da compreensão e da solidariedade (FLORENTINO, 2007a).

Na maioria das vezes o professor confunde diferença com desigualdade. E o não discernimento entre estes dois conceitos podem trazer conseqüências sérias as nossas crianças e jovens - dizemos isto porque a desigualdade é algo construído socialmente o que, de certo modo, acaba produzindo sentimentos de inferioridade. Dessa forma, o educador e a escola devem estar preparados para considerar as características próprias de seus alunos e que tais características não podem servir de condição para possível hierarquização dos indivíduos (FLORENTINO, 2007a).

Sendo assim, como poderíamos "semear" a inclusão em nossas escolas? De um modo geral, ao pensarmos em inclusão não basta criarmos vagas (ou para usar uma palavra que está em voga atualmente, não basta criarmos "cotas"), é preciso, sim, pensarmos em uma escola que atenda a todos de forma igual, com profissionais e professores aptos a trabalharem com a diferença, não havendo espaço para a criação e conservação de valores segregacionistas.

E qual seria o compromisso do professor de Educação Física? Podemos dizer que seu compromisso está na transmissão de valores morais e éticos por meio do esporte ou fazendo uso das palavras de Libâneo (s/d, p. 47), em seu livro O Essencial e a Didática e o Trabalho de Professor:

O sinal mais indicativo da responsabilidade profissional do professor é seu permanente empenho na instrução e educação dos seus alunos, dirigindo o ensino e as atividades de estudo de modo que estes dominem os conhecimentos básicos e as habilidades [...] tendo em vista equipá-los para enfrentar os desafios da vida prática no trabalho e nas lutas sociais pela democratização da sociedade.

Diante dos fatos, o professor, tendo consciência da ferramenta valiosa (esporte) que possui em suas mãos, deve aprofundar o desenvolvimento de atitudes afetivas e coletivas, fazendo com que seus alunos (não importando a raça, o credo, o gênero) reconheçam e respeitem sem discriminação, as características pessoais, físicas, sexuais e sociais do próximo. Em outros termos, uma prática educativa que negue as desigualdades que acabam inviabilizando o trabalho do professor com seus alunos.


O esporte como meio de sociabilização

Os motivos que levam crianças e adolescentes a praticarem uma determinada atividade física e desportiva são muitos e a sociabilidade pode estar associada a esta escolha. A necessidade de pertencer a um grupo é muito forte na adolescência e isto pode ser um dos fatores primordiais para os jovens se envolverem com o esporte. Segundo Weinberg e Gould (2001), as crianças apreciam o esporte devido às oportunidades que o mesmo proporciona de estar com os amigos e fazer novas amizades. Para Tubino (2005), não há menor dúvida de que as atividades físicas e principalmente esportivas constituem-se num dos melhores meios de convivência humana.

É por meio dessa convivência que as muitas oportunidades de contato social são proporcionadas à criança, contribuindo para o seu desenvolvimento moral (FARINATTI, 1995; FONSECA, 2000). Portanto, estar com amigos, fazer parte de um grupo ou fazer novas amizades, tem um papel importante no desenvolvimento, tanto psicológico quanto moral e ético de crianças e jovens.

A amizade, a sociabilidade e a competência constituem normas que regulam a aceitação social e, constituem fatores para o desenvolvimento de competências fundamentais para que a criança e o adolescente possam ser oportunizados a um bom crescimento e adaptação à vida adulta. Segundo Papalia e Olds (2000), os motivos dos adolescentes parecem estar associados à melhora da saúde e à performance física, característicos da fase de busca de uma identidade e de uma afirmação nos grupos.

Em estudo realizado por Paim e Pereira (2004) com adolescentes de 11 a 18 anos de idade, participantes de clubes escolares de capoeira em escolas públicas de Santa Maria/RS verificou-se, através da análise de três categorias (competência desportiva, saúde e amizade/lazer) os motivos para a prática deste esporte. Para os autores, os motivos relacionam-se, primeiramente, à saúde; em segundo lugar, amizade/lazer e, em terceiro lugar, à competência desportiva. Em outro estudo, realizado por Juchem (2006) com tenistas brasileiros infanto-juvenis, constatou que na categoria "até 16 anos", a dimensão sociabilidade obteve valores significativos para que estes praticassem atividade física regular.

É preciso que professores e/ou treinadores tenham uma atenção especial a esta dimensão, pois é possível perceber, por meio de resultados de pesquisas, que o fato de estar com amigos, de fazer novas amizades, de participar de novos grupos sociais, pode ser associado a um dos motivos que levam os jovens à prática regular de atividade física e, também, pela busca de novos valores, tais como: o exercício da disciplina; agir seguindo regras, ter respeito e ética; ser responsável (SALDANHA, 2007).

A respeito do que foi dito, Bento (2004, p. 49) afirma que os valores do jogo não são apenas ensinados para terem "valimento no esporte, mas sim e essencialmente para vigorarem na vida, para lhe traçarem rumos, alargarem os horizontes e acrescentarem metas e meios de alcançá-las". Em outras palavras, podemos dizer que tais valores tomam a direção da concretização dos princípios que devem reger a educação de nossas crianças e jovens.

Segundo Juchem (2006), proporcionar a estas crianças e adolescentes um ambiente (escolar ou "clubístico") em que os contatos e os valores afetivos e sociais sejam oportunizados é de suma importância, podendo assim auxiliar na diminuição da pressão por resultados e pela competição exacerbada.

http://www.efdeportes.com/efd112/esporte-educacao-e-inclusao-social.htm

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