segunda-feira, 8 de março de 2010



DIFERENÇA SIM, DESIGUALDADE NÃO


Wolmir Amado*
No Dia Internacional da Mulher, pessoas e instituições fazem às mulheres justas homenagens. Entretanto, seria também oportuno perguntar e ouvir das próprias mulheres qual a homenagem que, de fato, elas reconhecem como profunda, válida, necessária e duradoura. Bom seria se a delicadeza das flores presenteadas fosse acompanhada de justiça, ternura, respeito e solidariedade. Entretanto, ainda estamos longe de tal consciência, postura e atitude.
A diferença entre mulheres e homens ainda é marcada por doída desigualdade e violência. Há uma violência escancarada, grosseira e prevalecente, visível nos espancamentos que machucam fisicamente. Há outra violência, bem mais sutil, da qual nenhum de nós, homens, estamos imunes ou isentos. É simbólica, espiritual, social, cultural, política, econômica, religiosa e "científica". Desta violência, com a ajuda das próprias mulheres, precisamos nos libertar.
Ninguém tenha medo de somar-se às lutas libertárias das mulheres. A libertação da mulher é libertação do homem também. Libertamo-nos da míope misogenia, dos estereótipos que também nos fazem sofrer, dos costumes que nos enquadram em exigências que impedem plenas realização e felicidade.
Com alegria, vejo, compreendo e apoio, na Universidade Católica de Goiás, o Programa da Mulher. Somos uma das poucas universidades no País que assumem institucionalmente, de modo articulado e permanente - não de modo isolado, ou por iniciativas apenas de algumas heróicas pessoas -, o estudo, a pesquisa, a ação comunitária, o projeto educativo também sob a ótica de gênero.
É sinal de sabedoria discernir os autênticos "sinais dos tempos", em tempos cheios de sinais. A consciência de cidadania das mulheres é um dos maiores acontecimentos do século 20, que adentra ao século 21. Trata-se de um fenômeno que atinge e abrange todas as culturas. Essa consciência deu origem ao feminismo, movimento que conseguiu tornar as mulheres socioculturalmente visíveis em seus países e em âmbito mundial, nas grandes assembléias internacionais.
Quando a Organização das Nações Unidas realizou, em 1979, a Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação, foi dado importante passo histórico: o reconhecimento internacional de que há discriminação em relação às mulheres em todas as nações.
Também as conferências do Cairo (1994) e Beijing (1995) possibilitaram maior visibilidade aos problemas das mulheres e comprometeram Estados e nações a buscar caminhos e alternativas para a superação da discriminação das mulheres. Esse movimento global em torno da construção da cidadania das mulheres, matizado por muitos aspectos, tendências e perspectivas, dentre os muitos esforços propositivos, formula a crítica ao androcentrismo das sociedades patriarcais que, tradicionalmente, tratam as mulheres como seres subalternos em relação aos varões.
O androcentrismo coloca o sexo masculino como determinante da organização social, como referência primeira da cultura, como imperativo biológico dominante. Os varões situam-se no centro exclusivo da cultura. Entretanto, um novo projeto civilizatório vai sendo construído, sob a exigência de não tornar a diferença equivalente a desigualdade. Essa máxima vale tanto aos homens quanto às mulheres.
Também incorreríamos em desvios e novas patologias futuras caso caminhássemos para uma sociedade que fosse ginocêntrica, colocando as mulheres no centro das decisões, da cultura, da sociedade, desprezando metade da população (masculina). Pois bem, esta é a situação das sociedades androcêntricas e patriarcais. Há um alijamento na participação, na presença e nos direitos da metade da população que é feminina.
É exatamente na denúncia dessa injustiça que o feminismo se constitui historicamente como movimento político, visando à crítica e à superação da vileza cometida, coletivamente, contra as mulheres. Mas o feminismo, como movimento, quer também propor a aliança entre homens e mulheres, em busca de maior eqüidade.
Cremos que é pela cooperação de mulheres e homens, numa ética da solidariedade e do cuidado mútuos, que se construirão relações inclusivas e igualitárias. Esta ética postula as bases para a construção de relações de gênero mais justas capazes de gestar nova civilização, onde caibam todas e todos.
________________________________________
*Wolmir Amado é reitor da Universidade Católica de Goiás
Copyright © 2003 UCG - Universidade Católica de Goiás - Brasil

Disponível em: http://www2.ucg.br/flash/artigos/0403mulher.html. Acesso em 08/03/2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário